Decorreu no passado dia 13 de abril, a Conferência “Atividade exportadora nas Indústrias do Têxtil, Têxtil Lar, Vestuário e Calçado”, promovida pelo Município de Guimarães, em conjunto com a AEP – Associação Empresarial de Portugal, a Câmara de Comércio Luso-Francesa e pelo Escritório de Advogados João Fraga de Castro & Associados.
O objetivo deste encontro era o de preparar os empresários e representantes setoriais das áreas têxtil, têxtil-lar, vestuário e calçado para a exportação, através de uma abordagem multidisciplinar, que contou com intervenções de Paulo Vaz da Administração da AEP – Associação Empresarial de Portugal, Frabrice Lachize, Presidente da Câmara de Comércio Luso-Francesa e João Fraga de Castro, Senior Partner na João Fraga de Castro & Associados, numa troca de ideias moderada por Rui Castro Dias, Presidente da Associação Empresarial de Guimarães.
Numa perspetiva legal, João Fraga de Castro frisou, na sua intervenção, a necessidade de se ter em atenção os custos de contexto associados à atividade exportadora e que estão, recorrentemente, a ser ignorados pela indústria, condicionando os negócios, inviabilizando-os ou reduzindo os ganhos que se podem obter nos mesmos, ainda mais numa altura em que o mercado se encontra sob grande pressão devido ao contexto social e económico internacional.
Por seu lado, Paulo Vaz da AEP, começou por fazer uma resenha pela evolução das exportações nacionais nos últimos anos, destacando a mudança sentida na indústria, fruto dos impactos económicos, que se viu forçada a mudar o seu paradigma de atuação, focando-se no valor em detrimento do preço, apostando na inovação tecnológica, diferenciação e serviço prestado ao cliente, de modo a poder apresentar outros argumentos para lá do preço, e assim fazer face à concorrência que aposta em valores mais baixos. Paulo Vaz reforçou, também, o facto de o mercado estar a assistir a uma mudança significativa no tipo de consumidor e de consumo, com o surgimento de uma nova geração que recusa o chamado mercado do fast-fashion, focada em valores mais sustentáveis e assentes nas premissas da economia circular e contra o desperdício, o que levou a uma quebra no mercado da moda à escala mundial na ordem dos 8%. Este novo paradigma de consumo também sofreu alterações de perspetiva durante a pandemia, sublinhando que em Portugal, o setor da moda, foi o que mais depressa recuperou, muito auxiliado pelo comércio digital que cresceu durante este período e, já em 2021, pela vontade de voltar a comprar por parte do consumidor, tendo o último ano ficado pautado pela recuperação à escala global, com Portugal a bater recordes na exportação, referindo, embora, que esse facto não é sinónimo de crescimento global uma vez que importamos mais e a um custo mais elevado, uma vez que as matérias-primas também estão a ser afetadas pelo aumento dos custos de produção. Quando questionado acerca da sua visão para o futuro, Paulo Vaz afirma estar “medianamente otimista”, acreditando que o setor tem todas as condições para continuar o trajeto de sucesso, mesmo perante a crise atual e que se refletirá até meados desta década, sabendo contornar as situações mais críticas, de forma resiliente, não deixando, no entanto, de referir que é necessária uma intervenção direta do estado junto das empresas neste período transitório, com ajudas nomeadamente nos fatores de produção que estão a ser mais afetados, como a energia, assim como com incentivos fiscais para que as empresas possam continuar a investir nos seus negócios, não esquecendo os estímulos à presença internacional, permitindo aumentar o nosso peso nas exportações de forma mais acelerada.
França é o segundo maior parceiro comercial de Portugal no que toca a exportações, Fabrice Lachize, Presidente da Câmara de Comércio Luso-Francesa, acredita que falta muito para que a França ultrapasse a Espanha neste campo, sendo essencial que os empresários portugueses conheçam melhor o mercado francês e a sua realidade atual, assim como o próprio perfil do consumidor, sublinhando a necessidade da continuação da aposta na inovação que, por sua vez, poderá estar posta em causa nos próximos anos devido aos custos de produção, isto de modo a manter-se competitivo, e não só, referindo também a necessidade de encontrar soluções que respondam ao aumento de novos tipos de negócio que demandam quantidades de produção mais pequenas, diferenciadas e rápidas, reflexo dos novos hábitos de consumo.
As conclusões desta Conferência centraram-se na necessidade dos empresários nacionais, em especial os que investem na região do Vale do Ave, estarem preparados para os novos desafios que o mercado apresenta, estando conscientes das suas nuances e vicissitudes, com foco em novas estratégias de negócio que apostem na inovação e no investimento contínuo, sem perder o foco no capital humano e nas mudanças que se sentem ao nível sociológico com uma mão-de-obra cada vez mais especializada e, por isso, exigente, adaptando as suas abordagens ao negócio de modo a manterem-se competitivos face a um mercado em constante mudança, principalmente quando o seu foco está na exportação.
A falta de mão-de-obra diferenciada foi outro dos pontos abordados nesta conferência, sendo uma preocupação partilhada tanto pelos intervenientes do painel, como pelos empresários presentes na plateia, um aspeto que se tem revelado um entrave tanto na aposta por parte de empresas internacionais que se queiram implementar em Portugal, como para as aquelas que cá exercem a sua atividade, sendo opinião comum a todos a necessidade de se encontrarem soluções viáveis para esta questão sob pena de perdermos negócios para outras geografias, onde a mão-de-obra é mais barata, embora menos especializada.